Inspirada pela Páscoa, decidi falar-vos do violeta, normalmente apelidado de roxo, uma cor que também está, em voga, nesta Primavera. O violeta é uma cor bastante ambivalente, pois provém da junção de cores com características opostas (vermelho: energia; azul: tranquilidade) que simboliza, por um lado, a espiritualidade, o misticismo e por outro, a riqueza, o poder, o luxo, a vaidade, ambição e a sensualidade.
É, então, a cor menos natural, no sentido em que pouco existe na natureza. É, a que menos é aceite e escolhida para uso pessoal ou decorativo, tanto nos homens, como nas mulheres.Na verdade, a cor é o violeta, a cor independente. Se juntarmos branco, temos o lilás. Dá-se o nome de roxo a todas as tonalidades entre o vermelho e o azul, embora popularmente, os tons mais fortes ou escuros de violeta, sejam assumidos como cor própria, que designamos por roxo.
O roxo, produzido pelo homem, através de elementos da natureza, surgiu pela primeira vez na Fenícia, cidade da Tíria, chamada “púrpura da Tíria” sendo extremamente cara, pois para além de ser a única cidade do mundo onde existia, os produtos naturais eram extraídos de moluscos, caracóis púrpura, (caramujos espinhentos, assim designados pelos zoólogos )das suas glândulas que continham um pigmento roxo, sendo necessário um elevado número de moluscos, para o equivalente a uma grama desse mesmo pigmento. Essas glândulas colocadas em depósitos, exalavam um cheiro fétido, que de tantas horas de trabalho, levavam os homens que abraçavam essa atividade, a manterem esse cheiro constante nas mãos, o que dava o direito a que, por impossibilidade de o aguentarem, as respetivas mulheres pudessem solicitar a dissolução do casamento, a qual era aceite. Remontam-se estes factos a 1500 A.C., sendo que ainda hoje existem, nessa zona da antiga Fenícia, hoje, Líbia, junto à costa do mediterrâneo, camadas, com metros de altura, de conchas desses moluscos. Na Antiguidade, pelo seu preço, o pigmento roxo era adquirido apenas, pelas classes ricas: nobreza e clero, ficando por isso, associado ao materialismo e ao poder.
Das pedras naturais roxas, a mais conhecida é a ametista é uma pedra preciosa que pode ir do violeta intenso até um lilás claro. A ametista era usada contra as dores de cabeça e mesmo, contra a ressaca. O seu nome, de origem grega. Amethysos, significa “não bêbado”. Contudo, essa característica era-lhe atribuída porque os copos da nobreza eram feitos de ametista polida, o que não deixava ver o que bebiam. Colocando água, ficavam com a tonalidade roxa da própria ametista, parecendo vinho. Dessa forma e para se manterem sóbrios, bebiam, de forma discreta, mais água, que vinho.
Curiosamente, na Tailândia, eraassumida como cor de luto. Tambémem Portugal, o roxo era permitido em momentos festivos ou em situações formais ou cerimoniosas, como forma de trazer um pouco de cor ao preto absoluto, característico nos lutos pesados de pessoas próximas, mesmo na viuvez, em que muitas mulheres assumiam o traje preto para toda a vida. Poderia ser usado numa segunda peça, numa blusa, por exemplo, ou ainda, num acessório: lenço ou jóia com incrustações de ametista, quando pedra natural/preciosa.
Lembro-me em criança, à noite,do aroma de alfazema que vinha até nós, através dos lençóis lavados,que se guardavam em armários, onde se colocavam saquinhos costurados em casa, feitos de restos de tecidos, recheados de raminhosdessa planta que perfumava e afastava as traças.
Violeta nunca foi a minha cor de eleição, sempre procurei sobretudo os azuis por excelência, os brancos, os vermelhos e os amarelos. As cores que me mantinham na minha zona de conforto. Com que me sentia confortável, em casa!
Sim, porque todos temos uma zona de conforto, que nos aconchega, que impede que a ansiedade nos invada sem aviso, mantendo-nos num estado sereno, tranquilo. A cor é também um dos elementos que nos transmite esse estado, para além de muitos outros fatores. Quando nos levantamos de manhã e escolhemos a roupa que vamos usar nesse dia, fazemo-lo não só de uma forma funcional, mas também de uma forma emocional: hoje, apetece-me vestir estas peças, esta cor! Quantas vezes, deixamos a roupa preparada no dia anterior e de manhã alteramos tudo porque já não é com a roupa prevista, que me sinto como desejo: confortável ou formal ou ousada, conforme as minhas emoções do acordar. Como se naquele momento, não nos identificássemos com aquelas cores, com aquele estilo. Quanto mais confiantes e bem-dispostos estamos, mais arriscamos, podendo mesmo ousar um estilo mais desafiante, um acessório que não temos por hábito colocar, uma cor menos assumida. Mas quando algo nos incomoda, seja ansiedade, seja angústia, nostalgia, recorremos ao que nos concede maior segurança: o que nos mantém na nossa zona de conforto.
Também, a zona de conforto nos pode travar de vivermos outras emoções, mesmo, outras oportunidades de vida, mantendo-nos num estado passivo, inerte, em que vivemos o nosso dia a dia, sem qualquer alteração ou desafio, com dificuldade em fazermos frente a contrariedades e adaptarmo-nos a situações desconhecidas, correndo o risco de cristalizarmos nesse registo de comportamentos e emoções. Pode-se chegar ao extremo de não conseguirmos viver sem pânico e ansiedade, fora dessa zona de conforto e então, vivenciamos já um desequilíbrio que temos que ultrapassar com ajuda especializada.
Todos recorremos a estratégias para conseguirmos o nosso equilíbrio e o mantermos em face a situações sentidas como hostis, que nos obrigam a afastarmo-nos relevantemente da nossa zona de conforto. Por vezes, tratam-se de procedimentos que assumimos no dia a dia e que respeitam a comportamentos simples. Um deles, é exatamente como já estamos a adivinhar, a escolha da cor que nos confortará nesse dia: Confiantes, queremos dar nas vistas, desafiar o mundo! Inseguros: queremos ser discretos e assumimos o que nos reporta ainda que simbolicamente, à nossa tal zona de conforto.
A mesma cor, na decoração, pode ser utilizada numa sala de estar, num canto de leitura, num quarto de dormir, promovendo a introspeção, a espiritualidade, a sofisticação, mesmo o requinte ou o luxo.
O Violeta - atribuído a um roxo mais claro - é a cor menos percetível aos olhos humanos, tendo os menores comprimentos de onda e acima destes, a cor deixa de ser visível, estando a falar então, dos famosos UV, dos raios ultravioleta que tanto nos recomendam defendermos a nossa pele. Este promove a concentração, a espiritualidade, o equilíbrio e a calma. É uma boa cor, quando se necessita falar em público, pois estimula a audiência no sentido de se concentrarem e respeitarem o palestrante.
Por fim, podemos ainda associar o roxo ao luxo e à ambição, presente em mensagens publicitárias e invólucros de cosmética ou ainda, dando nome a uma Dieta, publicitada por Mariah Carey: a “Purple Diet”, à base de alimentos roxos ((beringelas; cebola roxa; batata doce roxa; açaí; mirtilos; ameixas; amoras; uva; couve flor lilás), que detêm um nível elevado de antioxidantes, com os respetivos benefícios.
A cor é um dos elementos da natureza, que transportamos para a nossa vida e é de tal forma importante, que a sua existência, a sua representação para cada um de nós e a forma como a utilizamos, pode reforçar o nosso equilíbrio, concedendo-nos alegria, confiança, estabilidade; manter-nos num estado melancólico, inativo ou mesmo, de cólera ou ira. E nós próprios, também a procuramos, conforme o nosso estado de alma, criando-se uma simbiose entre a Natureza e o Homem, através das cores que a própria natureza nos proporciona e da nossa própria identidade.
Vistam-se ao sabor do vosso humor ou do humor que procuram! E nós, falaremos novamente!
By Matilde Proença
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Paula Fulgêncio
julho 13, 2022
Parabéns Retry.
Os textos da Daniela Proença são muito interessantes. Aprendo imenso e é com muita satisfação que os aguardo.
Bjs
Paula Fulgêncio