Há dias, em que acordamos com um vazio dentro de nós e parece que nada nos preenche. É como se do dia se tivessem esvaído todas as cores, deixando-nos numa penumbra, na sombra, no escuro: “dias negros, momentos negros, horas negras! “, como se diz, vulgarmente. A ausência de cor, faz-nos ver o preto, defendem uns; a ausência de luz, faz-nos ver o preto, defendem outros! Uma coisa é certa, refere-se à ausência de uma das coisas bem agradáveis e necessárias na vida: cor ou luz!
Em termos cromáticos, o preto dá-se pela absorção de todas as cores, ou seja, de todos os comprimentos de onda do espetro solar. A cor preta absorve toda a radiação solar, tornando-se por isso, uma cor que nos concede maior calor em dias de sol e quentes. Se quisermos obter o preto, numa junção de cores, teremos que associar a cor magenta (tonalidade de vermelho), amarelo e ciano (tonalidade de azul), surgindo como uma cor neutra.
Como relativamente a todas as cores, a sua simbologia tem sempre a ver com questões culturais. Contudo, existem também, representações transversais a todas as culturas, ao longo da História.
Na pré-história, o preto foi uma das primeiras cores a ser utilizada, sendo visíveis nomeadamente em grutas francesas, em desenhos de touros e outros animais, que eram feitos com carvão, ossos queimados ou óxido de manganês.
Com os Romanos, tornou-se na cor da morte, do luto e também associada ao mal, a bruxarias. Na Europa e América, foi ao longo do tempo, permanecendo ligada ao luto, mistério, magia, violência e opostamente, à elegância.
Nos primeiros séculos do cristianismo, a cor ditava a vivencia dos povos. Deus era luz, simbolizado pelo branco. Toda a cor era uma forma de culto, de comunicação com as divindades. A partir do séc. XIV, com apeste-negra, guerras e uma economia em sério declínio, foram impostas cores que definiam o vestuário de cada classe social. Nesse contexto, muitas das cores foram proibidas e o preto passou a ser a cor da indumentária dos monarcas, da justiça e dos camponeses.
O negro volta a ser incrementado com a descoberta da imprensa: letras pretas sobre um fundo branco, pois era o melhor contraste para a leitura. A vida real como se podia ler nos livros, era a preto e branco.
Quando Isaac Newton descobre o espetro das cores, o negro não existe. O negro é então a ausência de luz e deixa de ser assumida como uma cor, até ao séc. XX.
E no século XX entra fortemente na moda, com um nome que viria a tornar-se mundialmente conhecido, marcante para uma alteração de imagem e simbologia da moda feminina: Coco Chanel!
A cor preta tradicionalmente associada à morte, ao medo, ao isolamento, à solidão, à tristeza e nostalgia e ao azar (em ditados populares: ver um gato dá azar!”), chega pela mão de Chanel com a célebre frase: “com um vestido preto, nunca me comprometo!”.
Todas as nossas convicções comungam de uma parte empírica, ou seja, da experiência da nossa vida, conjugada com o saber e o conhecimento. Por isso, temos que saber e perceber também, um pouco da vida dessa grande costureira que se eternizou:
Nasceu na pequena vila de Saumur, França, no dia 19 de agosto de 1883, sendo filha de uma lavadeira e de um vendedor de roupas, a quem deram o nome de Gabrielle Bonheur Chanel. Ficou órfã de mãe, com seis anos de idade, tendo quatro irmãos. O pai entregou-os e abandonou-os num orfanato, pertencente a uma ordem religiosa, situado na cidade de Auvergne, onde viveu até os seus 20 anos. Nessa instituição aprendeu costura, atividade que continuou a desenvolver numa loja de tecidos em que trabalhou como empregada de balcão, sendo essa a primeira atividade laboral que desenvolveu. A costura viria a revelar-se uma paixão!
Posteriormente, foi cantora de cabaré, assumindo aí, o nome que a eternizaria: Coco Chanel.
A ordem religiosa com que crescera no orfanato, tinha como indumentária um hábito preto e as próprias crianças, usavam uma farda da mesma cor.
Como se sabe, as religiosas, embora vivendo segundo regras pessoais e sociais exigentes, eram mulheres autónomas que viviam da organização do seu próprio trabalho, numa economia pelo menos de subsistência, o que acabou por conceder a Coco Chanel, uma visão feminina de uma vida prática, que obrigatoriamente tinha que ser eficiente, sendo que a própria acabou por ter que gerir sozinha a sua própria vida, uma vez que o seu pai, a abandonara mesmo e aos seus irmãos, como já referimos.
Nesta conjugação de vivencias, surge a moda preconizada por Chanel, como roupa para mulheres ativas, tendo por isso, que ser prática e confortável, mas sempre marcada pela elegância, com a sua implícita simplicidade. Nesse mundo de vestes pretas, prático, obrigatoriamente funcional e em que a própria indumentária tinha que se adaptar a toda e qualquer ocasião, desde a das religiosas, ás das crianças do orfanato, nasce o vestido preto, simples, pelo joelho que se pode usar sempre, com ou sem adornos, conforme o momento e a situação a que se refere. Para além de que Chanel viveu durante as duas guerras mundiais, tempos de exigência económica e restrições a todos os níveis, mesmo no que concerne à moda (têxteis e acessórios). Talvez também por isso e marcada mais uma vez pela educação com que cresceu, C. Chanel afirmava:“Sou contra a moda que é passageira. Não consigo imaginar que se jogue a roupa fora, só porque é primavera.”
Em 1910, passou a viver com o industrial inglês, Arthur Capel, que a ajudou a abrir sua primeira loja, “Chanel Modes”. Nos anos 20, Chanel já era uma designer influente, desenhava roupas elegantes, com tecidos fluídos e peças inspiradas no guarda-roupa masculino, tendo sido a primeira estilista que lançou as calças como moda feminina, uma peça prática e elegante! Os tailleurs Chanel, em tweed, ainda hoje são reconhecidos, bem como a bolsa Chanel 2.55.
Coco Chanel considerava o preto uma cor discreta, simples, que com os adequados acessórios se podia tornar elegante, luxuosa e nobre. As pérolas foram o adereço que considerava, por excelência. O adorno que também se podia conjugar com o simples vestido preto ou com o sofisticado vestido preto comprido, mesmo o de veludo, tido como o mais chique! Introduziu ainda as jóias de fantasia, numa perspetiva de poderem ser acessíveis a todas as mulheres. Contudo, dizia Chanel que “antes de sair de casa, olhe-se de novo ao espelho e retire mais um acessório”, juntando sempre a simplicidade à elegância, à classe.
Ditou a moda dos cabelos curtos e o uso do perfume que criou e que se eternizou: “Chanel, nº 5”, de cheiro doce, permanente e inconfundível, sem nos esquecermos do batom vermelho, conjugando-se tudo, numa imagem de mulheres maduras, elegantes e irreverentes!
Esta designer de moda introduziu a conjugação do preto com o branco. Dizia a própria:“As mulheres pensam em todas as cores, exceto na ausência da cor. Eu sempre digo que preto tem tudo o que se precisa. Branco também. A beleza deles é absoluta. É a harmonia perfeita”. CC
Debrucemo-nos então, sobre a cor branca, que tanto se vê conjugada com o preto, como promoveu Chanel, no que respeita á moda feminina, no séc. XX.
O branco é a Cor da Luz, pois reflete todas as cores do espetro, concedendo a maior clareza na perceção visual. O branco é uma cor neutra. Cor polémica no sentido se deve ser considerada uma cor ou um excesso de luz. E o mesmo pensamento é também utilizado para a cor preta, mas dessa vez considerando-se a ausência de luz.
Simboliza a pureza, a libertação, a espiritualidade, a inocência, a virgindade, a luminosidade, a calma, a frescura, a tranquilidade. É o símbolo da Paz. É a única cor a que não é atribuída uma conotação negativa.
Um ambiente branco, é comum nos meios ligados á saúde, como hospitais, proporciona frescura, calma, parece aumentar o espaço físico real. Mas, em demasia, torna-se frio, impessoal e vazio. Daí sentir-se a necessidade de o conjugar com objetos decorativos de outras cores. Haverá sempre uma conjugação perfeita, pois o branco conjuga-se com qualquer cor.
O branco, na cultura ocidental está associado á Alegria. Na oriental, ao luto e à tristeza. No ocidente, o branco acompanha-nos durante a vida. O primeiro alimento, o leite, é branco. É a cor dos vestidos de batismo, das comunhões, das noivas, das debutantes, tudo o que tem a ver com iniciações, renovações de vida. Também há países, como no Brasil, em que o branco é usado na passagem de ano para atrair todas as suas benesses para o Ano que começa: Paz, tranquilidade; harmonia; renovação espiritual e implicitamente de vida.
Diz-se que o branco é a única cor que não tem nenhuma característica negativa, que não promove nenhum sentimento ou emoção negativa. É a luz! E quem não quer luz, que lhe concede a visão ou luz, na sua vida?
Desejo-vos a continuidade da melhor Luz para cada um de vós e deixo-vos hoje, com as três definições da Chanel, que para mim, nos revelam indubitavelmente, a sua classe e a sua elegância:
“-A moda, não é o aparecimento, é a essência. Não é o dinheiro, é a educação. Não é a roupa, é a classe;
- O luxo não é o oposto da pobreza. É o oposto da vulgaridade;
- Elegância é quando o interior é tão bonito, quanto o exterior!” CC.
Mantenham-se elegantes!
Matilde Proença.
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