Durante muito tempo o homem retraiu-se nas suas escolhas de moda, mas finalmente ganhou coragem e desfruta agora de uma liberdade muito apreciada.
Já lá vão os tempos em que o antigo ditado popular “um homem quer-se a cheirar a cavalo” perdeu todo o sentido, e o “deboche” com que a “rapaziada” se metralhava mutuamente se extinguiu e deu aso a uma nova forma de compreender a moda. A forma de a encararem até então passava mais pelo brio de um cabelo e barba bem arrumados e uma apresentação simples mas zelada.
A verdade é que a maioria dos homens com o passar dos tempos e porque já não vivemos num mundo de charretes, começou a interessar-se mais pela moda e essencialmente por estar e parecer bem.
Começaram por se manter Clássicos mas com o decorrer dos tempos e todas as mudanças sociais de meados século XX e XXI, deixaram de lado muito dos estereótipos que lhes tinham sido incutidos e começaram a procurar soluções mais agradáveis, informais e cómodas.
Largaram os fatos e gravatas, os sapatos de atacadores, as formalidades dos chapéus e outros artefactos que lhes eram intrínsecos e, mas ainda a medo, foram soltando-se e estando atentos às novas modas que lhe eram dedicadas.
Mas era tudo ainda muito light e muito clássico até que os loucos anos 60/70/80 se tornaram os maiores responsáveis por toda esta revolução de estilo quer para eles quer para elas.
Imensos estilistas começaram a aparecer como cogumelos, dedicados também à moda masculina e rapidamente se impuseram no mercado e, consequentemente, ganharam fama e seguidores.
E assim nesta miscelânea de estilos irreverentes salientaram-se os jeans, calças à boca de sino e camisas justinhas em que mal podiam respirar, os longos cabelos e tudo o que a geração dos avós chamava de “modernices”.
Olhando uns para os outros, até porque a vaidade “morde” e o outfit podia ser o “culpado” de um momento de êxito, ninguém queria deixar-se ficar para trás.
Foram anos muito loucos e não havia quem segurasse os jovens.
Este fenómeno de Vaidade afetou todo o planeta. E todos queriam andar “na onda”.
Por culpa também de fenómenos sociais, por exemplo, como novos ritmos musicais e seus protagonistas como Elvis Presley, Beatles, Roling Stones,Bowie, Black Sabbath…and so on & on, a moda mudou em todos os seus segmentos.
E os homens, começando pelos mais jovens mas seguidos dos irreverentes mais velhos, aderiram rapidamente a novos colarinhos, novos nós de gravata……até culminarem com os jeans para todos.
Para mim, a democratização dos jeans foi a revolução do século XX!
A moda masculina não mudava com tanta rapidez como a feminina mas todos os anos alguma coisa se ia alterando. Gradualmente, foram-se entranhando nos hábitos masculinos novos elementos pelo que a moda masculina passou a ter uma dimensão merecida e marcante.
E assim, deparamo-nos com uma paisagem mais agradável, com uma cidade mais bonita com pessoas mais cuidadas e muito mais alegres e confiantes.
O cinzento, preto e azul marinho que durante anos foram na moda masculina como a segunda pele transformou-se numa mescla mais colorida que quer queiramos quer não tem influência no nosso humor e até no bem estar geral.
Um homem clássico que sabe despertar com pequenos toques de requinte e actualidade a sua imagem, é sem dúvida, o meu estilo perfeito. E permito-me ainda confessar que adoro o British Preppy Style com a ousadia relaxada do mundo em que vivemos.
Mas a moda homem não se fica só por aqui!
A moda é uma expressão de arte e acompanha os movimentos artísticos quer na área de artes plásticas, como música, arquitetura….
Por volta dos anos 80, com Ney Matogrosso, Bowie, Boy George, Grace Jones e outros já se vinha assistindo a uma forma mais andrógina de vestir.
Foi uma era marcante na moda masculina que desconstruiu as normas e enfeitou e exagerou os looks, tornando-os absolutamente diferentes e até teatrais mas sem dúvida únicos e chocantes.
A camada mais jovem rapidamente se soltou dos códigos até aí usados, despertou e aderiu veementemente a estes novos conceitos. A excentricidade estava à flor da pele.
Outra grande influência no mundo da moda masculina foi a “música rapper”, com sua “filosofia de periferia e crioulo” fazendo-se refletir na moda com um ar mais desleixado, descaído, roto, mas não menos coerente e confortável.
Por seu lado com o desenvolvimento da arte dos “grafiteiros” também a moda mudou trazendo às ruas mais cor, estampas, divertimento, descontração e liberdade. Tudo isto é por uns considerado vandalismo e por outros arte de rua com as mais belas e contundentes imagens.O grafitti assumiu um papel importante em várias cidades como por exemplo Bristol onde Banksy está bem exposto e é super respeitado pelos críticos de arte. As suas obras dispersas pela cidade são até objeto de organização de excursões.
Quanto ao ser ou não vandalismo, são os próprios grafiteiros que consideram que se não for um mero rabisco abusivo é considerado umas das artes mais belas expressivas e acessíveis ao olhar do público, sendo um elemento fundamental também na comunicação. O grafiteiro gosta de transmitir mensagens através da sua arte.
Mais uma vez os jovens não ficaram indiferentes e começaram a despertar para novos conceitos, a seguir suas convicções de forma determinada e dispostos a impôr-se sem preconceitos sociais.
Todos estes movimentos tiveram um impacto fulcral na evolução da moda, crescendo uma uma nova tendência, em paralelo, com o trilho conservador. Uma tendência mais conceptual e diferenciada muito baseada na metamorfose e na andrógenia.
A par desta forma mais livre dos homens se expressarem surge a vontade de se libertarem dos tradicionais fatos e de quererem, tal como as mulheres (que há muito já usam e abusam de todo o vestuário masculino), usar roupas mais femininas.
As saias são das peças mais desejadas e cobiçadas.
Vestidas por homens, as mais famosas saias conhecidas por “kilts” eram usadas por escoceses que até hoje não abdicam da tradição.
Apesar de estarem presentes noutras culturas, as saias para homem, não se generalizaram como as calças para as mulheres.
Existe ainda muito preconceito na sociedade que retrai os homens de as usarem. Mas, na verdade, hoje em dia ver um homem de saia pode ser exótico, mas a saia sempre foi parte do vestuário masculino.
Os homens usam saias desde tempos imemoriais .A saia era uma peça do vestuário que não delimitava território masculino ou feminino.
À semelhança de vários países especialmente no oriente os homens ainda usam saias.
No ocidente desde o desenvolvimento da alfaiataria no século XIX é que se generalizou o uso de calças para os homens “decretando-se” assim que as saias seriam para as mulheres.
Apesar de tudo isto os Papas nunca as deixaram.
E essa é a mentalidade que carregamos até hoje.
um pouco mais sobre as Saias ,suas rebeliões e controvérsias
Desde os anos 1960, época da contracultura, vários estilistas tentaram reintroduzir a saia masculina na moda, pegando emprestado ideias de culturas e eras diversas.
Em 1980, algumas celebridades e estilistas como Jean-Paul Gaultier, Giorgio Armani, John Galliano, Kenzo e Yohji Yamamoto tentaram promover a ideia de homens usando saias, sem a intenção de popularizá-las.
Mas os homens mantiveram-se conservadores e imutáveis em suas vestimentas por séculos, o que explica a ainda actual "pobreza" na variedade de roupas masculinas.
Os designers de moda masculina e os usuários de saia empregam seu uso com três finalidades: de transgredir códigos morais convencionais e sociais, redefinir o ideal de masculinidade e injetar novidade na moda masculina.
Kurt Cobain e diversos estilistas como Vivienne Westwood e Paul Smith, não pararam de as explorar e as implementar na apresentação das suas coleções a saia para homens.
“A roupa masculina deveria inspirar-se na roupa feminina e não somente o inverso”.
Mas o estilista turco, Rifat Ozbek, conhecido pelos seus trajes exóticos de inspiração étnica, acha e acrescenta que os homens têm medo de que a saia vá alterar sua sexualidade: "Os homens só aceitam usar saia se ela for revestida de um peso histórico, como a saia escocesa ou ainda se for uma peça assinada por um estilista famoso, pois isto não vai fazer com que um homem se sinta menos homem", opina.
Com exceção da saia escocesa, o “kilt”, os homens continuam muito receosos na hora de vestir qualquer tipo de saia.
Encontrar saias masculinas em lojas alternativas é bem comum.
Muitos estilistas apresentam saias nos seus desfiles masculinos como Jean Paul Gaultier, John Galliano, Etro, Comme des Garcons, Yves Saint Laurent, Alexander McQueen,…Dentro destes estilistas, Marc Jacobs é o único que usa saia com frequência no seu dia a dia.
A saia está a ser usada como uma forma de mostrar que um homem pode estar na moda.
Nesse sentido, deixo aqui umas dicas aos homens que querem usar saias:
As saias masculinas podem ser longas ou curtas (abaixo dos joelhos). Cores discretas, como cinza, castanho, preto ou caqui. Na parte de cima, t-shirts ou camisas sociais. No inverno: camisas fechadas, golas altas, camisolas de lã que podem ser complementadas com blazer ou fato completo. Nas pernas só leggings pretas e se tiver coragem: meias calças.Nos pés use: no verão: ténis, sandálias ou mesmo chinelos. No inverno, botas de cano curto ou longo.
Em Portugal não é comum vermos homens de saias. O único exemplo que me lembro são os do rancho tradicional dos“pauliteiros de miranda” (mas creio que ao contrário dos escoceses ,só as usam em festividades).
E, retomando o crédito que a arte tem nesta matéria, falemos de Prince (um dos génios da androgenia) que mudou a maneira como pensamos sobre música e género. As suas proezas na composição dos outfits contribuíram para quebrar todo e qualquer tipo de costumes e protocolos. Era um amante de saias.
Os anos 80 com todo o seu glamour e substancial influência e proliferação de novos artistas intensificou a predisposição para se falar abertamente sobre a igualdade de género. Prince foi também responsável pela adopção do roxo ou lilás como “emblema” Gay.
No palco, meninos bonitos como Boy George, com seu glitter e eyeliner e sua forma teatral e picante de se apresentar nos espetáculos, criou o desejo nos jovens masculinos de os imitarem. Bowie também entra neste naipe com uma ideia de liberdade: “ser o que você quer, vestir-se como homem ou mulher, ser homossexual ou heterossexual”. Esta mensagem foi absorvida por muitos meninos e meninas que até então não ousavam sequer pensar, nem para si só, neste assunto.
Bowie foi da androgenia até à metamorfose e reinventou-se ao longo da sua carreira de uma forma astuta e poderosa. Os seus trajes são icónicos.
Apesar de um dos seus outifts favoritos serem os “fatos brithish style” confeccionados divinamente por alfaiates e grandes estilistas, a sua destreza em misturar e criar trajes masculinos com femininos ao longo de sua carreira, deram-lhe uma dimensão teatral e camaleónica. E referiu numa entrevista o seguinte: “Já pensou que chato seria se todos os dias fôssemos as mesmas pessoas, com o mesmo estilo e as mesmas vontades de sempre?”.
E com toda esta expressividade ficou conhecido não só como um dos mais emblemáticos músicos de sempre e ainda como um inspirador e impulsionador de grandes mudanças na moda.
J.W Anderson, estilista irlandês que trabalhou em casas de renome como, Loewe, Louis Vuitton e outras, apresentou, com a sua própria marca, na semana da moda masculina de Londres, peças femininas construídas especialmente para o corpo masculino dando à saia um lugar exponencial.
Afinal, há décadas que as mulheres usavam tudo o que era desenhado para ser usado por homens pelo que seria quase inevitável que um dia não acontecesse o contrário.
Este tema é super actual e infindável, no entanto, cumpre-me deixar aqui uma reflexão. Estaremos no caminho certo para a igualdade e liberdade entre homens e mulheres na moda, liberdade essa que já vem sendo ganha quer no trabalho quer na vida social ou se ao permitirmos a liberdade de escolha, estaremos cada vez mais a esquecer as atribuições de cada um? Isto porque as escolhas que fazemos são determinadas pela nossa personalidade.
Quero com isto dizer, esta manifesta alteração na moda masculina e seus atributos tradicionais, esta explosão tão surpreendente, levar-nos-à a concluir como a moda e a sociedade estão a entrar por um caminho desconhecido, vulnerável e deturpado, propondo ou dando a escolher ao homem ou à mulher se querem manter os seus registos de homem e de mulher, ou se estão dispostos e pretendem trocar os papéis, ou seja, o homem querendo ser mulher e a mulher querendo ser homem?
Apesar desta troca de papéis indicar uma ideia desatualizada ou até machista, o facto é que muita gente ainda pensa assim e não é fácil de um momento para o outro a sociedade aceitar “novos protocolos”. Às vezes, nem é preconceito, mas falta de instrução, civilidade e cultura. Com tolerância e um maior tempo de reflexão e aprendizado sobre o assunto tudo se encaixará nos devidos lugares e todas “as peças que constituem este xadrez” irão com certeza ter o seu espaço e intercâmbio exemplar, permitindo uma convivência saudável a todos.
E com estas modas me despeço lembrando que “a educação faz o futuro parecer um lugar de esperança e transformação”.
Maria Pia
Os comentários serão aprovados antes de serem apresentados.
Maria José Ferreira
julho 13, 2022
Muito interessante, uma imagem dinâmica da moda do homem! Adorei! Parabéns!