Aqui estou, numa esplanada vagueando o olhar pela paisagem e por quem nela se atravessa. Surge um casal novo, em direção à beira mar, colorido já pela Primavera deste ano, com cores bem quentes e arrojadas: ele, resguardado da brisa, por um blusão vermelho, ela com um casaco desportivo amarelo canário. Fez-me então pensar na junção dessas duas cores, como se na junção das suas vidas se tratasse: vermelho e amarelo, levam-nos até o laranja. O bonito laranja deste entardecer, de um pôr-do-sol límpido!
Um laranja que se prolonga sobre a água do mar, sobre a areia onde se deliciam em brincadeiras e corridas, adultos, crianças e cães, libertos dos espaços limitados em que todos hoje vivem. Parecem telas de pintura, em que o laranja sobressai e faz as outras cores tornarem-se mais intensas. Relembra-me o quadro de Claude Monet, chamado “Impressão – nascer do sol“ em que o sol laranja pintado numa paisagem azul de neblina, tornou as cores (azul e laranja) mais brilhantes, representando os efeitos da luz no ambiente, bem como, a impressão pessoal do artista quanto ao que via.
Foi essa sua obra que conduziu ao movimento denominado Impressionismo, no séc. XIX, em que a cor laranja se tornou uma cor importante no Impressionismo, apesar de não ser primária ou pura. Essa importância manteve-se no pós-impressionismo, até o seculo XX e ainda, no modernismo. No Impressionismo, podemos observá-la nas pinturas de Renoir, na pintura de barcos; Cézanne, que criou tonalidades próprias do laranja, jogando com o ocre, vermelho e amarelo; Toulouse-Lautrec para quem o laranja foi associado à luz e às festas, aparecendo reiteradamente nas saias das dançarinas parisienses de bares noturnos.
No pós-impressionismo, Van Gogh fez o seu auto-retrato com o cabelo laranja e considerava o laranja e o amarelo, a verdadeira luz da região francesa de Provence. Considerava ainda que não existia laranja, sem o azul, ou seja, o efeito da cor laranja atingia o máximo, quando rodeado de azul, constituindo estas cores os opostos. Guaguin utilizou o laranja para roupas e cor de pele.
Laranja: uma das cores adorada ou odiada! Vamos então, desvendá-la!
Comecemos por recordar onde a vemos na natureza. É a cor mais visível na natureza e que, em diversas situações, influenciadas por questões culturais, a denominamos de vermelho ou amarelo. O laranja é uma cor secundária, muito ligada a alimentos. É visível em especiarias, como o açafrão, frutos, vegetais, flores; peixes e marisco, como por exemplo e em cada grupo: laranjas, tangerinas, dióspiros, nêsperas, mamão; abóboras, cenoura, bagas, batatas-doces; gerberas, tulipas, chorinas, malmequeres, rosas, dálias; salmão; lagosta, camarão.
É portanto, uma cor que nos estimula o apetite, pois facilmente a associamos a diversos e saborosos alimentos. Por isso, indicada para ser considerada na decoração de cozinhas e salas de jantar, sendo também uma cor quente, aconchegante e uma cor da comunicação inter-relacional. Todos os ingredientes necessários a um bom momento de petiscos, pois a alimentação, como bem sabemos, é também um hábito social. Quem não gosta de se reunir numa cozinha, apaladar, a comer e a conversar?
Podemos usar o laranja na decoração de espaços, iluminando-os e atribuindo-lhes energia e quando conjugado com o amarelo, afasta definitivamente as más energias, fazendo a nossa criatividade funcionar de forma construtiva e confiante.
O Laranja é ainda, por excelência, a cor de longas paisagens, no outono, em que as árvores e arbustos se vestem de vários tons de laranja, passando pelos vermelhos e amarelos, cuja conjugação nos leva a um tempo de repouso após a energia e os longos dias de verão.
Que nos diz esta cor forte, quente, alegre que nuns levam a sentimentos de conforto e que outros rejeitam?
Posso começar por vos dizer que quando estudava, frequentando já o curso superior sobre que recaiu a minha escolha, sendo na altura, um curso que se tornara independente de outro clássico e nesse sentido, novo, teve que ser definida a cor que o representava, como é da praxe. Então, a primeira escolha recaiu sobre o branco (de que falaremos um destes dias), mas como já estava atribuído a Teologia, foi selecionada a cor laranja! Não foi uma cor consensual. Foi-nos mesmo, imposta! Mas, posteriormente, viemos a compreender a sua atribuição. Conseguem adivinhar a que curso me refiro? Deixo este pequeno desafio.
O laranja abarca 45 tons que vão desde o amarelo açafrão, passando pelo salmão, ao laranja tijolo, emana energia física e mental, que leva, contudo, a sentimentos diferentes, conforme a hora do dia. Num dia de sol, a luz laranja do meio-dia, transborda uma energia construtiva, de força! O pôr-do-sol transporta-nos por emoções que podem levar-nos desde a tranquilidade à nostalgia.
O laranja, faz fruir alegria, amizade, sociabilidade, humor, segurança, entusiasmo e ambição. Bem como, sentimentos de desejo, de apetite, de atividade. Com toda esta luz, energia, intensidade, o laranja é uma boa cor para combater estados depressivos e libertar-nos de sentimentos que nos levam a inseguranças pessoais, que cada um transporta sempre na sua história com maior ou menor carga. O laranja leva-nos em situações próximas do descontrolo emocional, a direcionar de forma positiva as nossas energias. É ainda uma cor que liga muito bem com tons de bronze, como a pele bronzeada no verão e que, conjugada com o azul tem um efeito reparador.
À cor laranja, chamavam na antiguidade “vermelho-amarelo”. Só depois do fruto, laranja, chegar à Europa, trazido pelas Cruzadas, inicialmente a França, onde era cultivado, sendo originário da Índia e após ter chegado também à Arábia, é que por comparação com a cor do mesmo, nasceu a denominação laranja, como cor própria.
O Laranja era uma das cores simbólicas do hinduísmo e do budismo, simbolizando, a luz e a perfeição, no seu grau mais elevado. Era usada também pelos nobres, desde o amarelo açafrão ao laranja tijolo, sendo um pigmento caro, pois o açafrão, era uma especiaria valiosa, usada no tingimento dos tecidos, para lhe conferir essas tonalidades.
Esta cor tornou-se também, uma cor de alerta ou de sobrevivência, como por exemplo, nos coletes salva vidas, nos botes e bóias, por ser de fácil visualização para os aviões e helicópteros nas missões de salvamento. É também utilizada em equipamentos de trabalhadores em locais de exposição a diversos perigos, como nas estradas. É ainda utilizada em alguns países, nas fardas dos reclusos em estabelecimentos prisionais. É também a cor dos piscas-piscas dos automóveis e como todos sabemos, é uma das cores dos semáforos.
O Laranja é mais apreciado em conjugação com peles mais amareladas. Na Europa, apenas na Irlanda e Holanda é mais comum a sua utilização, dada a existência de elevado numero de ruivos (“os laranjinhas”). É considerada também a cor de quem quer chamar a atenção, do frívolo ou original.
A tonalidade alaranjada na pele, através da maquilhagem, foi criada por Valentino Garavani, que voltou como moda há cerca de pouco mais de uma década atrás, mas que em demasia, se torna artificial. O laranja tem a ver com uma pele sadia: nem amarelada (doente), nem vermelha (queimada e sensível).
Estamos no mês de maio e como Maria Pia, já vos falou, no mês das noivas! Quando se fala em laranja e na árvore que nos concede o fruto que deu azo ao nome da cor, as laranjeiras, não podemos deixar de recordar a sua flor branca e perfumada, classicamente atribuída às noivas, tanto na Índia, como na China. Na Índia, eram colocados adornos nos cabelos simbolizando a sua pureza, a fidelidade e o amor eterno, e na China, levavam buquês e ambos simbolizavam ainda, a fertilidade do casamento. Esta tradição provém da Arábia, tendo sido trazida para a Europa, na Idade Média.
Digam-me quando se lembram de ter usado laranja? É uma cor do vosso guarda roupa?
Na senda do Verão, nesta Primavera, usem, mas não abusem do Laranja! Conjuguem-no bem, tornando-se criativas e tornem-se assim, saudavelmente intensas!
By, Matilde Proença.
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Paula Fulgêncio
maio 24, 2022
Acabei de acordar e encontrei o texto no meu mail.
Gostei dos anteriores da Matilde Proença mas este superou tudo.
O texto está fantástico, muito inspirador e fez-me acordar com paz e com um pouco de romantismo.
Fíico à espera de mais Matilde Proença. Parabéns