A cor do Verão!

por RETRY CD 1 Comentário

A cor do Verão!

Em passeio, sem destino certo, algures entre campos, num momento de descanso junto da natureza, sinto o impacto dos campos amarelos, assim coloridos, aqui junto a mim, pelos imensos malmequeres bravios que nascem espontaneamente. Além mais ao fundo, por imensos girassóis, de face bem voltada para o sol! Mais parecem uma enorme manta amarela poisada sobre o chão de terra, tornando-a luminosa, alegre e repleta de energia. Apetece saltar do carro e caminhar pelo meio de toda aquela cor, mas tenho pena de calcar tantas e tão bonitas florinhas que atrevidamente nos provocam pela sua cor contagiante!

A perceção do exterior a nós, rapidamente nos transporta para o nosso interior fazendo-nos navegar por memórias próximas ou distantes, principalmente as que nos marcaram de alguma forma no nosso percurso de vida. Recorda-me o amarelo, ser a cor preferida de um dos meus irmãos, o que o levou a ficar com um dos meus polos, embora recusasse todas as peças de roupa que passavam de mim, por ser rapariga - à boa maneira tradicional em que a roupa era reutilizada pelos irmãos mais novos - porque de facto, era amarelo, a sua cor!

O Amarelo representa o Verão! É logo, o que nos faz pensar essa cor. E como tal, a luz, o calor, o brilho leva-nos a sentimentos intensos. Também se for em exagero, pode tornar-se cansativo, causa mesmo fadiga visual, por refletir uma grande quantidade de luz. Quem consegue olhar o sol? Ninguém!

Sol, calor, luz, são perceções que nos são confortáveis, agradáveis! Por isso, o Amarelo é associado a caraterísticas positivas. É uma cor que aparece assumida por grandes marcas, como a Ferrari, numa simbologia de luxo, conforto, diversão e liberdade; o McDonald`s como um lugar divertido, onde as famílias se podem reunir e gozar o momento, com uma refeição saborosa, rápida e acessível economicamente, para a sua maioria; como o IKEA que nos disponibiliza conforto e beleza, por pouco dinheiro; aparece também, na marca CAT (caterpillar): cujas caraterísticas são a durabilidade, qualidade, eficácia. O Amarelo é ainda a cor da Informação, se se lembram das Páginas Amarelas!

É ainda, uma cor preventiva, no sentido de que chama a atenção: pensemos nos semáforos e sinais de trânsito, em que a cor amarela nos chama a atenção para os perigos possíveis.

 

O Amarelo não é uma cor emocional, ou seja, ligada aos sentimentos, ao coração, sendo associada à cor da inteligência e sabedoria. Simboliza a criatividade, mas sempre com lógica; a tomada de decisões, de forma célere; capacidade analítica e crítica, tanto consigo próprio, como com os outros; controlo das emoções. Confere-nos energia, alegria, otimismo, jovialidade e confiança.

O dourado que vem da cor do ouro representa a idealização do amarelo e acaba por abarcar as qualidades mais positivas desta cor, conjugadas com o luxo, a riqueza e a força. Ao amarelo são então atribuídas caraterísticas que têm a ver com a melancolia do outono, o declínio e a doença. Mas em conjugação com as cores outonais, vem também a maturidade e associada a esta, o amor sensual, como era cantado pelos trovadores, na Idade Média.

 

Ao amarelo claro esverdeado dá-se a atribuição clássica do ciúme, da inveja, da avareza e do egoísmo. Ao amarelo são atribuídas ainda outras caraterísticas: hipocrisia, impulsividade, ansiedade, obsessão, irritabilidade, nervosismo, impaciência.

Quando associada à cor preta representa a falta de discernimento. Quando associada ao dourado, simboliza a riqueza e a prosperidade.

 

Num aposento pintado de amarelo e segundo teorias da Psicologia Experimental, relativas à Cor e respetiva influência nos comportamentos humanos, o amarelo pode provocar irritabilidade e levar a um maior e mais rápido, descontrolo emocional. É uma cor que promove, por exemplo, o choro nos bebés, quando se encontram num espaço, como um quarto, assim pintado.

Tem a capacidade de aumentar o metabolismo no corpo humano e conjugado com o vermelho, estimula o apetite.

 

Michel Pastoureau, considerado um dos maiores historiadores da simbologia da cor explica que: as sociedades da Antiguidade adoravam o Amarelo. Era a cor que fazia parte do quotidiano de Roma e da Grécia. Em Roma, nos casamentos, os noivos iam vestidos de amarelo. Na Idade Média, foi substituído em grande parte pelo dourado, utilizado nomeadamente pelos artistas nas suas obras.

Via-se então o amarelo em situações menos felizes: bandeira amarela, numa povoação assolada pela peste e usada obrigatoriamente em pessoas conotadas com o crime ou situações tidas como amorais, tanto pelas vestes, como pelo uso de acessórios amarelos, como lenços de cabeça, nas mulheres que se dedicavam á prostituição; nas mães solteiras o uso de gorros dessa cor, ou ainda, pela aplicação de símbolos amarelos nas próprias vestes, como quem tinha dívidas, ou seja, na Idade Média, correspondia à cor da “desonra”.

No século XX, os judeus eram obrigados à estrela de David amarela, cozida ás costas das vestes, como elemento discriminatório. Uma das razões para a escolha desta cor, era também, por ser bastante visível, percecionar-se mesmo, no escuro.

 

A associação da cor amarela à traição, nasce com Judas, o traidor de Jesus, que aparece nas telas com uma túnica amarela e em que é realçada ainda esta cor, com o loiro dos cabelos.

 

Na pintura, a partir do séc. XVI, há cada vez menos amarelo e reaparece a partir do séc. XIX, com o Impressionismo, para o que contribuiu a pintura ao ar livre, com as tintas já utilizadas em bisnagas, o que permitiu a sua fácil utilização, mesmo no exterior.

Regressa então, o Amarelo, em todo o seu esplendor, valorizado e assumido com a sua cor e energia, levando a colocar em segundo plano, a sua história e caraterísticas menos felizes. E ao falarmos dessa cor, não podemos deixar de relembrar os dois grandes pintores do amarelo: Van Gogh com os seus Girassóis e Gauguin, com o Cristo Amarelo, entre tantos e tão belos quadros em que a cor amarela, é uma presença contínua.

 

Numa última curiosidade sobre esta cor, posso acrescentar que a mesma era obtida através do açafrão, sendo um produto muito caro e por isso, inicialmente e no Oriente, onde existia esta especiaria, concedido a quem tinha riqueza e poder. Posteriormente, através da açafroa (pólen de um cardo), encontrando-se nas pirâmides do Egito, vestes assim tingidas e esta planta passou a cultivar-se na Europa, a partir da Idade Média. Mais tarde, a tinta utilizada provinha da planta Jalde ou Reseda. Era a mais fácil, pois cozia-se a planta com a peça dentro do mesmo vasilhame em simultâneo e não perdia a cor com as lavagens como acontecia, com a açafroa.

 

No que se refere aos dias de hoje e à moda, o amarelo parece só caber nas roupas informais de verão. Contudo, na moda elegante um vestido de seda ou cetim ou aveludado é apreciado e considerado. Culturalmente, na Ásia é o local em que esta cor mais se associa ao vestuário, porque realça as suas peles de tom amarelo.

 

Apesar de todas as ambivalências desta cor, quem não gosta de vestir uma túnica, uma saia ou vestido, sobre a pele bronzeada, descontraída e poderosa, numa tarde de Verão?...

Até o nosso próximo encontro, vivam de forma enérgica, saudável e bem colorida, de preferência com Amarelo!


Matilde Proença

 

 

 

 

 

 

 


1 Resposta

Paula Fulgêncio
Paula Fulgêncio

maio 24, 2022

Adoro os blogs da Matilde Proença. São leves, curiosos e também instrutivos.
Aguardo ansiosamente a próxima cor.
Obrigada Retry.
Paula Fulgêncio

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